terça-feira, 31 de janeiro de 2012

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Ao meu filho Pedro Henrique Castro Alves,

Hoje meu filho acordou feliz... tão feliz... acabou de fazer 6 anos de idade: tantos sonhos... tanta vida pra viver e ser feliz! Pedro: Espero querido... do fundo do fundo da minha alma que sejas feliz... Está crescendo, começando a entender um pouco mais das artimanhas desse nosso triste mundo... nossa triste cidade... Mais... você é criança e ainda não compreende porque, justamente no dia do seu aniversário, papai não está feliz... querido... estou feliz sim: pelo fato de olhar nos seus olhos e me reencontrar... de ver você desse tamainho indagando das coisas, dizendo que vai virar um leão, um dinossauro ou um super homem para salvar o mundo. Acredito piamente nessa sua fantasia, meu filho, acredito piamente que só com essa utopia, esse sorriso e essa inocência, conseguiremos transformar o mundo e torná-lo habitavel... vivível... tolerável...
Estamos na sua mão e na mão de seus contemporâneos: porque filho: a geração do meu pai perdeu... e a minha... tá perdendo também... a gente luta e leva porrada e sabe o que nossos irmãos labutam? Apenas uma casa, é..., um teto, um lugar pro papai, pra mamãe, pra vovó, pro cachorrinho... enfim, filho, nada tão absurdo...
Mas, nesse exato momento meu filho... papai fica triste e chora... Sabia que tem um monte de amiguinhos seus que tiveram que sair correndo de casa porque a polícia começou a atirar e expulsá-los de seus lares? Imaginou você fazendo isso? Imagina papai fazendo isso? Eu fiz... papai, quando tinha o seu tamanho foi levado nos braços da sua vovó, desesperada, correndo, porque a polícia, naquele momento não deu trégua... (até hoje lembro da cara daquele asqueroso Bevilacqua “evacuando” os ratos ([eu, infelizmente já fui considerado rato nessa cidade também meu filho...] da cidade e destruindo sonhos... destruindo a dignidade de seres humanos...) deixando a gente assim... sem eira e nem beira... meu papai, o seu vovô, teve a dignidade de continuar a labuta, ocupou um outro barraco, pois aluguel, não, filho, não dava pra pagar... ou rua, ou casa, ou barraco e comida... ele tinha que escolher... e para a minha e por conseguinte, a tua sobrevivência também (pois a tua existência dependeu da minha sobrevivência), o meu papai escolheu o barraco e a comida... que muitas vezes era o pão dilacerado e mofado que o diabo amassou!!!
Tudo isso já é passado meu filho: Teu avô conseguiu construir a nossa casa aqui no Novo Horizonte, teu papai tem um emprego legal, te leva pra lugares legais, mas tem um monte de coleguinhas teus que não tem a mesma sorte... e sofre e chora... nesse exato momento por fome, por falta de um lar, por falta de brinquedos, por falta da esperança estampada nos rostos dos seus pais...
Isso tudo é triste meu filho... muito triste e quero que esse teu aniversário seja o marco divisor na tua vida também... Ouça e leia no futuro esse desabado do teu pai e depois: Pense bem meu Pedro Henrique Castro Alves: você que carrega no nome o sobrenome de nosso conterrâneo que lutou muito pela liberdade de seres condenados à escravidão: Lute e labute pelo direito incondicional que qualquer ser humano tem: moradia digna, saúde, educação, cultura, lazer, trabalho e sonhos...
Nunca deixe de ser essa criança que vejo agora ao meu lado, aqui no teclado: papai que cê tá fazendo?
Filho: Estou fazendo um pedido: Incendeia teus amigos com a chama da esperança e pela luta do bem comum: E nunca se esqueça: Ser humano é SER humano: seja humano e contamine os teus amigos e contemporâneos para que esse mundo seja de fato o nosso mundo, pois, quem aqui está, filho, tem que ter os mesmos direitos... a terra não deve ter dono e gente é pra brilhar (como você) e não morrer de fome, de frio, de desesperança, de dor...
Hoje jogo toda a minha esperança apenas em você e nos teus contemporâneos, porque meu filho: a minha geração, definitivamente: não tem mais jeito não...
Eu já perdi a esperança...
Pegue a chama: por favor filho meu e mantenha acesa essa centelha...
Feliz aniversário meu filho...
Dias melhores virão?

Te amo!!!

São José dos Campos, 23 de janeiro de 2012
Wangy Alves